Parque Morro da Manteiga


Parque Morro da Manteiga

Equipe de projeto: Alexandre Kenji Okabaiasse, Vitor Jun Takahashi, Daniela Moro, Beatriz Dutra e Ana Mirena Nick Neves
Localização: Camaçari, BA - Brasil
Área: 67,8ha
Ano: 2019


01 Diagnóstico
Caracterização das Bordas / Interfaces
As margens do Morro da Manteiga são caracterizadas por três relações distintas de antropização: ocupações habitacionais, ordenadas e desordenadas, à sul e oeste; o anel florestal à norte, faixa de separação entre as plantas industriais e a sede, em parte contigua ao Rio Camaçari e ocupada por esparsos objetos infraestruturais; galpões industrias e a rodovia BA-535 à leste, compondo uma paisagem de transição.
Como interface mais crítica, localizam-se a sudoeste expansões de ocupações sobre o espaço livre de borda do morro, sendo áreas de grande risco, sujeitas a deslizamentos.
Uma segunda tipologia de interface antropizada é identificada no topo do Morro, marcada pelos grandes volumes edificados da EMBASA, cuja grande extensão horizontal torna-o um marco horizontal na paisagem. Todo o trajeto e fluxo que os veículos de grande porte realizam para acessar os reservatórios também se caracterizam como limites, inviabilizando zonas potenciais de uso e ocupação.

Atualmente uma rede da caminhos espontâneos e informais atravessam a extensão do Morro, interligadas por cinco pontos de acesso em contato com as ocupações habitacionais e sete pontos frente ao anel florestal, que são utilizados principalmente como um vetor de ascensão ao platô superior do Morro. Apesar da espontânea ocupação, os acessos não configuram uma malha coesa com as principais vias urbanizadas de seu entorno próximo. A ciclovia existente na porção norte da área, também não contempla uma conexão com a infraestrutura cicloviária do município.

Caracterização vegetação
A paisagem vegetal do morro é marcada por uma hibridização entre a relação homem-natureza. Poucas áreas são remanescentes da vegetação original do local, sendo muito presente a reconfiguração vegetal em decorrência das ações humanas que sucederam durante os anos.  Buscou-se mapear as zonas e as técnicas de plantio utilizadas, bem como as áreas onde o predomínio de vegetação arbórea tem maior presença. Dessa maneira, evita-se fazer uma leitura/proposta inocente da paisagem vegetal como natureza primitiva mas sim como uma paisagem híbrida que é mediada pelas ações naturais e humanas.

Paisagem Infraestrutural
Com uma diferença vertical de cota entre base e topo de mais de 50 metros, o morro da Manteiga é caracterizado por encostas de médio aclive, sejam com solo acidentado ou com taludes frutos das recentes intervenções. O seu platô de topo é disperso, configurando um limite geométrico poligonal, onde se faz notar dois eixos longitudinais.
Do ponto de vista infraestrutural, o sistema de drenagem pluvial atua de modo a aliviar o processo de erosão do morro, conduzindo as águas da chuva para o leito do rio Camaçari. Esse sistema é composto por elementos com forte presença horizontal na superfície, tais como: canais, canaletas e calhas, que conferem uma característica infraestrutural para a paisagem.

No topo do morro, os reservatórios hídricos da EMBASA demonstram a importância municipal do morro, sendo artefato monumental e marco referencial no horizonte. Na base do morro, estações elevatórias e poços tubulares, tratam e bombeiam a água para o topo, através de adutoras subterrâneas.
Este conjunto de elementos atuantes dentro de cada sistema mas independentes entre si, desenham, demarcam, consomem e segmentam as áreas do morro, se fazendo presentes como linhas indutoras de forças por todo o território.

É a partir da leitura desses sistemas que afere-se um reconhecimento urbano, paisagístico e infraestrutural para a área objeto deste concurso. Para um correto desenvolvimento de futuras etapas do projeto desta proposta, é necessário um mapeamento e análise precisa dos diversos elementos, fluxos e zonas deste sistemas, pois configuram-se como base norteadora das decisões e estratégias adotadas.

02 Parque Morro da Manteiga
Enlace Sistêmico
Elemento marcante na paisagem de Camaçari, o Morro da Manteiga é caracterizado como um acúmulo de ações desordenadas sobre sua paisagem, onde diversas camadas de sistemas atuam independentemente. A presente proposta parte da leitura dessas camadas, adicionando intervenções estratégicas, que dialogam com os sistemas presentes, contribuindo no desenvolvimento de um enlace sistêmico para a paisagem hibrida desse equipamento infraestrutural.
Parte-se da Escala municipal, visando integrar o Parque Morro da Manteiga com os espaços verdes do município, atuais e previstos, como o Anel Florestal, o Parque Linear junto ao Rio Camaçari, o Horto Municipal e o parque Joanes, a fim de criar uma rede integrada de modo a estimular o uso e fruição deste espaços no cotidiano dos cidadãos.

A intervenção proposta não busca ordenar um território e sim evidenciar seus elementos sistêmicos, trazendo a superfície a memória de suas camadas, de maneira a se fazer presente para com a comunidade que usufruirá de sua paisagem. Assim, busca-se despertar um senso de consciência e pertencimento da população com esse importante espaço territorial.
O diagnóstico e análise das características físicas e geográficas do local, marcados pela condição de amortecimento entre indústria e cidade; e por bordas e topos com singularidades especificas, embasaram a definição de um sistema de fluxos articulador de toda a proposta, coordenado em conjunto com as outras camadas sistêmicas levantadas. Esse sistema de fluxos norteia também o limite dos pontos nodais programáticos.

Bordas
O tratamento das interfaces de borda, prioriza em primeira fase as zonas críticas de expansão urbana, realocando seus moradores e executando uma série de taludes em suas encostas, junto com o uso de técnicas de plantio que evitam o processo de erosão. Essas técnicas são realizadas em outras áreas de encosta que apresentam as mesmas problemáticas. Para evitar futuras expansões habitacionais, são definidas três praças com equipamentos comunitários de lazer e desporte, que atuam como espaços livres próximos as zonas de ocupação bem como demarcam os acessos dessas comunidades para a ascensão ao topo do parque. Nas bordas junto ao anel florestal, zonas de maior área plana é priorizado um tratamento paisagístico que estenda as qualidades físicas do anel florestal em consonância com usos esportivos e recreativos.

Topos
O platô posicionado no cume do morro, é desenvolvido a partir de suas características geométricas, vegetais e visuais. A sua cota de nível, confere um entendimento e leitura do desenvolvimento urbano de Camaçari, sendo ponto de interesse para dispositivos educativos e culturais, bem como área de utilização ecumênica. De maneira a mitigar os impactos dos reservatórios hídricos da EMBASA, é relocado o seu acesso veicular e reservado uma área próxima para uma possível expansão futura de seus reservatórios. Esse mesmo acesso é tratado como ponto de entrada para visitas educativas, de modo a enfatizar a importância desse equipamento infraestrutural para o município. Ao mesmo tempo, os usos e permanências são posicionados na interface lateral da edificação, onde é proposto um tratamento paisagístico de seu limite.

Encostas
Para as zonas mais sensíveis de encosta, são desenvolvidas estratégias de controle das áreas erodidas por meio da recomposição vegetal, fazendo uso de técnicas de plantio em curvas de nível, em sulcos e cordões de contorno. De modo a controlar os acessos ao topo do morro, são definidos apenas seis caminhos nas áreas de encostas, definidos por um equilibrio entre questões topográficas e sistêmicas.

Sistema hídrico
Através da identificação da água como elemento que transpassa os sistemas presentes no parque, busca-se nela a confecção da identidade para o parque através de diversas leituras e contatos durante toda a paisagem: fluxos peatonais associados a elementos de drenagem como as linhas de canaleta e zonas de wetland; dispositivos comunitários como quadras e anfiteatro que atuam também como áreas para acumulo de águas pluviais; Edificação da EMBASA, que é tratado como um marco educativo no conjunto do parque; espelhos d’agua sensoriais no platô de topo do morro.

Usos e equipamentos
A distribuição de usos e equipamentos perseguiu a lógica de hibridez programática. Os elementos dos diversos sistemas levantados, são condicionantes para a definição de certos programas, criando vínculos entre sistemas e programas.
Um segundo fator imposto, derivado das problemáticas topográficas, foi o estabelecimento de atividades de uso diário e de grande concentração/permanência de pessoas nas bordas do morro, restringindo atividades mais pontuais para o topo.
A partir destas condicionantes, são definidos uma série de pontos nodais programáticos: anfiteatro; hortos; centro comunitário; eixo esportivo; eixo educativo e eixo comercial.  A relevância desses pontos não são definidos por seu programa de uso e sim por seu posicionamento e ativação de suas zonas de contato, equalizadas aos sistemas do parque. Com isso, entende-se que são programas abertos, passiveis de serem alterados após consultas populares com a comunidade do município. Além dessa compreensão, são propostas estruturas metálicas modulares para as edificações, que podem ter seus usos e apropriações alterados sem grandes problemas.
Parque Morro da Manteiga
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