UM GATO SEM NOME
Um gato sem nome, sim, mas com uma história bastante intensa para quem apenas tinha cinco meses quando o conheci. Ou melhor, resgatei.
Pelo menos é assim que gosto de me lembrar disso, mas a verdade é que este pequeno ser me ajudou mais a mim.
Tinha algumas feridas e manchas de óleo ou de pneu no pêlo, mas nada de grave e por isso tenho praticamente a certeza de que sobreviveria sem mim. Ainda assim, por alguma razão a minha vida cruzou-se com a dele e mesmo sem sabermos, estávamos a cuidar um do outro.
Eu, em casa fechada há meses, sem trabalho, a sair apenas para ir às compras e a sentir-me cada vez mais inútil como é normal (na situação em que hoje vivemos). Ele, apanhou-me numa dessas saídas, assustado, no cimo de uma árvore e a pedir ajuda com um miado agudo e incessante.
Não vou mentir, ao início pensei que estivesse na época de acasalamento de alguma espécie de ave, mas depois de escalar um pouco a vedação vi, na escuridão, uns olhos ternurentos a brilhar e não hesitei a estender-lhe a mão. Pensei que fugiria ainda mais amedrontado, mas eu sairia dali com a minha consciência tranquila pois tentei ajudar. Até que senti as suas patinhas na palma da minha mão e ainda bem que assim foi. Ajudá-lo foi como ver aquela luz, que tanto precisava, ao fundo do túnel. Fez-me sentir que tinha algum valor novamente, mesmo que só por aquele momento e assim sendo, não podia deixá-lo ali depois do que fez por mim.
Trouxe-o comigo para casa e durante alguns dias procurei pelos seus donos, mas nada. A minha irmã é alérgica, portanto não podia ficar com o gato mais tempo. Restava-me arranjar-lhe um bom lar e, felizmente, consegui! O senhor que o queria veio ao nosso encontro e quando saiu do carro vieram-me as lágrimas ao olhos. Ele tinha deficiências a nível motor, disse-me que procurava uma companhia há já demasiado tempo e foi aí que percebi que aquela bolinha de pêlo que tinha nos meus braços valia mais do que poderia imaginar. Ainda sem identidade e com apenas uns meses de existência, aquele pequenote estava pronto a "salvar" mais uma vida.
Claro que esta história podia não ter um final feliz, mas só me arrependeria se não tivesse feito nada.


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